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Shakespeare 2 - A vasta obra do maior dramaturgo de língua inglesa

Atualizado: 26 de set.


Condições teatrais na época de Shakespeare


A postagem anterior  em Drama Literatura, Classicismo, foi dedicada à vida de Wiliam Shakespeare. Veremos agora suas obras. No período Elizabetano, os teatros Globe e Theatre, administrados pelos Chamberlain’s Men, atraíam várias classes sociais, exceto puritanos. Durante a peste, os atores viajavam pelas províncias. Em 1613, a popularidade do teatro gerou demanda por novas peças, e a companhia, renomeada King’s Men, passou a atuar também no Blackfriars, um teatro coberto e mais caro. Inicialmente como ator, Shakespeare adquiriu profundo conhecimento sobre teatro, o que se refletiu em suas peças. Os ensaios eram mínimos, os papéis femininos eram interpretados por jovens atores e palhaços precisavam equilibrar o humor com a trama.

 

Datação e publicação das peças de Shakespeare

 

Mesmo com base em estilo, temas e evidências, a datação das peças de Shakespeare é incerta, mas há consenso sobre obras escritas de 1588 a1601, de 1605 a 1607 e a partir de 1609. Seus poemas Venus and Adonis (Vênus e Adônis) e The Rape of Lucrece (O Rapto de Lucrécia) foram escritos durante a peste de 1592 a 1594, enquanto os sonetos são datados de 1593 a 1600. Já The Phoenix and Turtle (A fênix e a tartaruga) data de 1600 a1601. Acredita-se que sua primeira peça, Henrique VI, Parte Um, foi escrita entre 1589 e 1590, quando Shakespeare tinha cerca de 25 anos.


 

Durante o Renascimento, companhias teatrais pagavam escritores freelancers por novas peças, mas Shakespeare escrevia exclusivamente para sua própria companhia, os Lord Chamberlain's Men e King’s Men. Metade de suas peças foi publicada durante sua vida, muitas vezes em edições não autorizadas, o que levou a revisões, como Romeo and Juliet (Romeu e Julieta - 1599) e Hamlet (1604-a 1605). Textos reconstruídos por atores oferecem uma visão histórica, embora controversa.


Após a morte de Shakespeare, Heminge e Condell publicaram o Fólio de 1623, reunindo 36 peças. Diferenças entre edições quarto e fólio continuam sendo debatidas em edições críticas como The Oxford Shakespeare e The Arden Shakespeare. As edições quarto e fólio das peças de Shakespeare referem-se a diferentes formatos de impressão usados para publicar suas obras no século XVII:

 

Edições Quarto – se refere ao formato em que uma folha de papel é dobrada duas vezes, criando quatro folhas ou oito páginas (quatro na frente e quatro no verso). Essas edições eram menores e mais baratas de produzir. Muitas das peças de Shakespeare foram publicadas pela primeira vez em quarto durante sua vida, mas nem todas essas edições eram oficiais. Algumas foram baseadas em versões não autorizadas, com erros ou variações significativas em relação ao texto original.

 

Edições Fólio – é um formato maior, no qual uma folha de papel é dobrada uma vez, criando duas folhas ou quatro páginas. A primeira edição Fólio de Shakespeare, conhecida como First Folio, foi publicada em 1623, sete anos após sua morte, pelos amigos e colegas John Heminges e Henry Condell. O First Folio contém 36 peças, incluindo 18 que não haviam sido publicadas antes. É uma das edições mais importantes porque preservou várias obras que poderiam ter se perdido, como Macbeth e The Tempest (A Tempestade).

 

É difícil de determinar a cronologia das peças de Shakespeare, mas sabe-se que entre 1590 e 1613, ele escreveu 37 obras que abordam história, tragédia e comédia. Muitas peças desafiam essas categorias, e a interpretação delas evoluiu ao longo do tempo. As primeiras obras seguem o estilo convencional da época, com metáforas elaboradas e frases retóricas que nem sempre se ajustam ao enredo. No entanto, Shakespeare inovou, adaptando o estilo tradicional para criar um fluxo mais natural. Ele utilizou principalmente o pentâmetro iâmbico não rimado, mas também incluiu passagens em prosa simples e diferentes formas de poesia.

 

Pentâmetro iâmbico é um tipo de métrica que é utilizado em poesia e em drama. Descreve um determinado ritmo que as palavras estabelecem em cada verso. Esse ritmo é medido em pequenos grupos de sílabas; estes pequenos grupos são chamados "pé". A palavra “iâmbico” descreve o tipo de pé que é utilizado.



 Colaborações e peça perdida

 

Shakespeare também é conhecido por ter criado peças com outros escritores, como John Fletcher (1579 — 1625), dramaturgo inglês do período jacobita. Seguindo William Shakespeare como escritor da King's Men, Fletcher estava entre os dramaturgos mais prolíficos e influentes de sua época. Sua fama rivalizava com a de Shakespeare.Eles co-escreveram The Two Noble Kinsmen (Os dois nobres parentes) entre 1613 e 1614, tornando-se a última obra dramática conhecida de Shakespeare. Eles também colaboraram em Cardenio, uma peça que foi perdida. Outras peças escritas em conjunto por Shakespeare são Sir Thomas More e The Raigne of King Edward the Third (O reinado do rei Eduardo III).

 

O início no teatro em Londres

 

Nos primórdios de sua carreira, Shakespeare atuou em papéis secundários, revelando rapidamente seu talento na criação e reescrita de textos dramáticos. Tornou-se o principal colaborador em obras como Titus Andronicus (Tito Andrônico), uma tragédia de vingança inspirada em Sêneca, e Henry VI (Henrique VI), que se transformou em uma tetralogia com Richard III (Ricardo III). Também participou da comédia The Taming of the Shrew (A megera domada) e do drama inacabado Sir Thomas More, do qual restaram apenas três páginas de seu autógrafo.


Com a peste, Shakespeare provavelmente completou The Comedy of Errors (A comédia dos erros) e The Two Gentlemen of Verona (Os dois cavalheiros de Verona), além da grandiosa Richard III (Ricardo III). Obras como Love’s Labor’s Lost (Amor é trabalho perdido) e A Midsummer Night’s Dream (Sonho de uma noite de verão) podem ter sido inicialmente escritas para públicos mais exigentes, mas foram reescritas para audiências menos sofisticadas após a reabertura dos teatros públicos. Love’s Labor’s Lost (Amor é trabalho perdido) foi o primeiro drama impresso a incluir o nome de Shakespeare na capa, conferindo-lhe dignidade literária. Essas experiências moldaram sua evolução como dramaturgo e sua habilidade em atrair públicos diversos.



As primeiras peças de Shakespeare


Shakespeare chegou a Londres no final da década de 1580, com cerca de 20 anos, e começou sua carreira no teatro imitando dramaturgos londrinos e exemplos clássicos. Curiosamente, ele usou mais de 80 variações de seu nome e nunca assinou "William Shakespeare" por completo. Além de escrever, também atuou em suas peças e nas de outros dramaturgos. Suas obras foram apresentadas nas cortes de Elizabeth I e Jaime I. As primeiras peças, como Henrique VI e Ricardo III, abordam a falta de liderança na Inglaterra, influenciadas pelo teatro medieval e por dramaturgos elisabetanos como Christopher Marlowe e o romano Sêneca.


Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C. – 65) foi um filósofo estoico e um dos mais célebres advogados, oradores, escritores e pensadores do Império Romano. Conhecido também como Sêneca, o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estoico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia europeia renascentista.

 

As primeiras peças de Shakespeare, como Titus Andronicus (Tito Andrônico), mostram a influência da tragédia de vingança popularizada por Thomas Kyd em The Spanish Tragedy (A Tragédia Espanhola). Thomas Kyd (1558 – 1594) foi um dramaturgo inglês do teatro isabelino. As evidências sugerem que na década de 1580 Kyd se tornou um importante dramaturgo, mas pouco se sabe sobre sua atividade. Francis Meres o colocou entre "nossos melhores para a tragédia" e Heywood em outro lugar o chamou de "Famous Kyd".


Francis Meres (1565 –1647) foi um eclesiástico e autor inglês, educado no Pembroke College, em Cambridge. Seu parente, John Meres, foi alto xerife de Lincolnshire em 1596, e aparentemente o ajudou no início de sua carreira. Em 1602 Meres se tornou reitor de Wing, Rutland, onde também dirigiu uma escola.


Inspirado por Sêneca, Kyd desenvolveu um gênero marcado por temas de vingança, loucura e justiça. Em Tito Andrônico, a trama segue esse modelo, com uma história sangrenta de vingança motivada por assassinato e estupro. O protagonista enfrenta dilemas éticos e a própria loucura, culminando em um banho de sangue. Esse modelo também aparece em Hamlet e outras obras, consolidando a tragédia de vingança como um gênero poderoso no teatro renascentista.

 

Comédias românticas

 

Shakespeare escreveu várias comédias ao longo de sua carreira, incluindo sua primeira peça The Taming of the Shrew (A megera domada). Além de Tito Andrônico, Shakespeare inicialmente não desenvolveu a tragédia formal, preferindo a comédia romântica, influenciado por dramaturgos como Robert Greene e John Lyly.


Robert Greene é um autor americano de livros sobre estratégia, poder e sedução. Greene escreveu sete best-sellers internacionais, incluindo As 48 Leis do Poder, A Arte da Sedução, As 33 Estratégias de Guerra, A 50ª Lei, Maestria, As Leis da Natureza Humana e 365 Leis. John Lyly (1553 - 1606), foi um romancista e dramaturgo inglês. Tornou-se conhecido com a publicação de Eupheus ou A anatomia do espírito, em 1579, romance em que lançou o eufuísmo: combinação exata das palavras, com cadência, aliterações, antíteses e, eventualmente, a utilização um pouco abusiva das figuras de linguagem.


As primeiras comédias, como The Two Gentlemen of Verona (Os Dois Cavalheiros de Verona - c. 1590–1594), estabelecem o motivo da jovem disfarçada de homem, que ele usaria em várias obras subsequentes, como The Merchant of Venice (O mercador de Veneza) e Twelfth Night (Noite de Reis). The Comedy of Errors (A comédia dos erros - c. 1589–1594), inspirada em Plauto, aborda identidades equivocadas e questões de autoconhecimento, enquanto Love’s Labor’s Lost (Trabalhos de amor perdidos - c. 1588 a 1597), influenciada por Lyly, tem foco no embaraço masculino e na autoconfiança feminina.


Tito Mácio Plauto foi um dramaturgo romano, que viveu durante o período republicano. As 21 peças suas que se preservaram até os dias atuais datam do período entre os anos de 205 a.C. e 184 a.C. Algumas outras comédias escritas por Shakespeare antes de 1600 ou mais, são:

 

A Midsummer Night’s Dream (Sonho de uma noite de verãopor volta de 1595), obra repleta de fantasia em que vários fios da trama se entrelaçam. The Merchant of Venice (O mercador de Veneza - ca. 1596), outra evocação sutil de atmosferas exóticas semelhante à da obra anterior. Na opinião de muitos críticos, Much Ado About Nothing (Muito barulho por nada por volta de 1599) deforma no tratamento um tanto insensível das personagens femininas. The Comedy of Errors (A comédia dos erros  por volta de 1592), uma farsa sobre os erros de identidade causados ​​por dois pares de gêmeos e os mal-entendidos que ocorrem em relação ao amor e à guerra.



Em The Taming of the Shrew (A megera domada - c. 1590–94), Shakespeare desenvolve uma trama múltipla, característica de suas comédias românticas, ao abordar a relação conjugal com o enredo da "domesticação" de Kate por Petruchio. Embora baseado em tradições antifeministas, Shakespeare transforma a história em uma complexa luta por domínio. Kate, apesar de aparentemente subjugada, adquire sabedoria para manipular a situação a seu favor que resulta em um relacionamento mais equilibrado. A peça mostra o talento de Shakespeare em abordar temas de gênero e poder, destacando a inteligência de Kate em contraste com a superficialidade de sua irmã Bianca. Essas comédias iniciais mostram Shakespeare desenvolvendo seu estilo único e sondando a dinâmica de gênero, amor e identidade.

 

O caráter de farsa já não é tão evidente em The domestication of bravery (A domesticação da bravura - por volta de 1593), uma comédia de personagens. Por outro lado, The Two Gentlemen of Verona (Os dois cavalheiros de Verona - ca. 1594) baseia o seu apelo no uso do amor idílico, enquanto Love’s Labor’s Lost (Trabalhos de amor perdidos - ca. 1594) satiriza os amores dos seus personagens masculinos.

 

Algumas de suas comédias podem ser descritas como tragicomédias. Entre elas estão Pericles (Péricles), Cymbeline, The Winter’s Tale (O conto de inverno) e The Tempest (A tempestade). Embora mais graves em tom do que as comédias, elas não são as tragédias sombrias de King Lear (Rei Lear) ou Macbeth porque terminam com reconciliação e perdão.

 

Comédias de Shakespeare como As You Like It (c. 1600) e Twelfth Night (Noite de Reis) são marcadas pelo lirismo, ambiguidade e heroínas cativantes. Em As You Like It (Como você gosta), ele contrasta os costumes da corte com os da vida rural e desenvolve a relação entre realidade e ficção. The Merry Wives of Windsor (As alegres comadres de Windsor - c. 1599) é uma farsa sobre a classe média.

 

Em tragédias como Rei Lear (c. 1605), ele aborda as consequências da irresponsabilidade, enquanto em Antônio e Cleópatra (c. 1606) apresenta a paixão de Marco Antônio e Cleópatra. Macbeth (c. 1606) trata da ambição e decadência moral, e Coriolano (c. 1608) aborda a alienação das massas. As tragicomédias românticas Péricles (c. 1608), Cymbeline (c. 1610), The Merry Wives of Windsor (As alegres comadres de Windsor - c. 1599)  e The Tempest (A tempestade - c. 1611) apresentam personagens superando grandes sofrimentos para alcançar a felicidade. Henrique VIII (c. 1613) e The Two Noble Kinsmen (Os dois nobres parentes - c. 1613) foram colaborativos, provavelmente com John Fletcher.



Comédias românticas

 

Na segunda metade da década de 1590, Shakespeare aprimorou o gênero da comédia romântica. A Midsummer Night’s Dream (Sonho de uma noite de verão – 1595 a 1596) combina múltiplas tramas e figuras mágicas, como Oberon e Titânia, para explorar a ambivalência do amor e as lutas pelo poder. Em The Merchant of Venice (O mercador de Veneza - (1596-97), o romance entre Pórcia e Bassânio contrasta com a tragédia de Shylock e trata as tensões entre cristãos e judeus.


Much Ado About Nothing (Muito barulho por nada - 1598 a 1599) versa so0bre acusações injustas e barreiras emocionais entre casais. As You Like It (Como você gosta – 1598 a 1600) e Twelfth Night (Noites de reis  1600 a 1602) apresenta disfarces e o amadurecimento emocional, com personagens femininas fortes e com relacionamentos saudáveis. Essas comédias mesclam humor e tragédia e revelam as complexidades do amor, identidade e poder.

 

The Merry Wives of Windsor (As alegres comadres de Windsor - c. 1597 a 1601) é uma comédia atípica de Shakespeare, ambientada na vila burguesa de Windsor, perto do Castelo de Windsor. Diferente de suas comédias românticas, a peça focaliza menos no romance e mais nas interações sociais. Diz-se que a rainha Elizabeth pediu para ver Falstaff apaixonado, mas o romance entre Anne Page e Fenton fica em segundo plano. As personagens femininas, Mistress Ford e Mistress Page, são espirituosas, leais e confiantes. Elas usam sua inteligência para humilhar Falstaff, que se torna o bode expiatório ao expurgar simbolicamente as fragilidades humanas da sociedade de Windsor.

 

Peças históricas de William Shakespeare

 

Shakespeare escreveu algumas de suas obras mais importantes relacionadas à história inglesa, além de duas de suas melhores tragédias. Na década de 1590, além de comédias românticas, Shakespeare finalizou sua investigação da história inglesa com Ricardo II, Henrique IV e Henrique V. Após cobrir eventos até 1485 na tetralogia de Henrique VI e Ricardo III, ele abordou o declínio de Ricardo II e a ascensão de Henrique Bolingbroke. Henrique IV concentra-se no amadurecimento de Hal, que renuncia a Falstaff para assumir a responsabilidade real. Em Henrique V, Hal emerge como herói. Paralelamente, Shakespeare examinava o amadurecimento sexual e social em suas comédias e contrastava esses temas com o crescimento de Hal como líder e temas como poder, moralidade e maturidade.

 

Todas as três peças de Henrique VI, Ricardo II e Henrique V dramatizam os resultados destrutivos de governantes fracos ou corruptos e foram interpretadas por historiadores do drama como a maneira de Shakespeare justificar as origens da Dinastia Tudor. Outras histórias incluem Ricardo III, Rei João, as duas peças de Henrique IV e Henrique VIII. Com exceção de Henrique VIII, que foi a última peça de Shakespeare, essas obras provavelmente foram escritas em 1599.



Shakespeare transformou o gênero das peças históricas inglesas, que não seguiam as regras clássicas, em algo único. Inspirado por The Famous Victories of Henry the Fifth, ele estudou as guerras civis do século XV e a queda de Henrique VI para obras como Henrique VI (c. 1589–93) e Ricardo III (c. 1592–94). Essas peças falavam de temas de liderança, traição e guerra e refletia as ansiedades da Inglaterra elisabetana após a vitória sobre a Armada Espanhola. Shakespeare adaptou eventos históricos para criar dramas cativantes e ajudou a consolidar a identidade nacional inglesa ao exaltar figuras como Henrique VII, fundador da Dinastia Tudor.

 

As tragédias escritas por Shakespeare

 

Embora Shakespeare tenha escrito três tragédias antes de 1600, incluindo Romeu e Julieta (c. 1595) que retrata o destino trágico de dois amantes separados pela rivalidade familiar.  Em peças como Otelo, Rei Lear e Macbeth, seus personagens revelam traços humanos atemporais e universais. Rei Lear aborda o envelhecimento e o conflito geracional. Hamlet, talvez a mais famosa, vai além das tragédias de vingança, que ele examina e a mistura de glória e sordidez da natureza humana. Escrito por volta de 1599, Júlio César aborda a revolta política romana e as preocupações da época sobre a sucessão da Rainha Elizabeth I.

 

Em Othello (Otelo - c. 1604), o cerne está no ciúme injustificado que corrompe o protagonista, um general mouro no exército veneziano. Desdêmona desobedece ao pai, o que resulta em tragédia causada pelo ciúme irracional de Otelo. As tragédias de Shakespeare vão além dos modelos clássicos pois revela complexidades morais e perovoca uma reflexão sobre o destino, responsabilidade e a natureza humana em profundidade.

 

Romeu e Julieta se destaca entre as tragédias de Shakespeare por sua intensa análise do amor jovem e da influência destrutiva de fatores externos. Os protagonistas são vítimas da rivalidade entre suas famílias e de mal-entendidos, o que dificulta a comunicação e os empurra para um trágico destino. A peça critica a inimizade familiar e a responsabilidade pessoal, especialmente quando Romeu, em um ato de vingança, compromete a paciência ensinada por Julieta. A tragédia não apenas evoca emoções de lamento pela brevidade do amor, mas também reflete sobre como o ambiente hostil molda e, eventualmente, destrói esse amor.

 

Escrita entre 1599 e 1600, Júlio César marca a transição de Shakespeare para temas mais sombrios e complexos, como o assassinato de César e suas diversas interpretações. Enquanto alguns acreditam na ira dos deuses, o sábio Cícero sugere que os homens agem por conta própria, destacando a natureza cíclica da história. Brutus, um personagem trágico que busca proteger a república, acaba causando a destruição das liberdades que valoriza, avaliando as qualidades trágicas que o levam à morte.

 

Com Hamlet (c. 1599 a 1601), Shakespeare adota um modelo trágico mais sofisticado. Embora inclua elementos de vingança, Hamlet é singular em sua moralidade e hesitação, o que revela sua luta interna com a culpa após a morte de Polônio. A aceitação do seu destino leva a uma reflexão sobre vida, moralidade e responsabilidade, enquanto apresenta temas como amizade, amor e corrupção que enriquecem a complexidade da experiência humana. Essa evolução marca um passo significativo na obra de Shakespeare.



 Os poemas de William Shakespeare

 

Durante a peste de 1592 a 1594, Shakespeare se dedicou à poesia e escreveu Vênus e Adônis (1593) e O Rapto de Lucrécia (1594), ambos influenciados por Ovídio e supervisionados por ele na impressão. Dedicados a Henry Wriothesley, conde de Southampton, possivelmente seu patrono, esses poemas consolidaram seu talento poético. Além disso, Shakespeare pode ter escrito alguns de seus sonetos para Southampton, com temas de amizade, ciúme e a imortalidade da poesia. Os sonetos narram uma história de amor, decepção e autodesprezo, possivelmente autobiográficos, destacando o poder de Shakespeare em tratar as complexidades emocionais com profundidade e dramaticidade.

 

As peças "problemáticas"

 

Entre 1599 e 1600, Shakespeare começou a compor temas sombrios como vingança, ciúme e morte, o que marca sua própria transição para experiências mais complexas. Essas peças problemáticas mostram uma transição significativa na obra de Shakespeare, o desafio das convenções de gênero e a complexidade da experiência humana. Esse período gerou peças difíceis de classificar, chamadas de "comedias problemáticas", como All’s Well That Ends Well (Tudo está bem quando acaba bem), Measure for Measure (Medida por medida) e Troilus and Cressida (Troilus e Cressida).

 

Tudo Bem Quando Acaba Bem apresenta dilemas éticos, com o Conde Bertram rejeitando Helena, que usa um estratagema moralmente ambíguo para conquistar seu amor. A peça questiona a solidez do casamento e a complexidade da heroína.

 

Medida por Medida aborda o dilema de Isabella, que enfrenta Lord Angelo, por ele exigir sexo em troca da vida de seu irmão. A resolução envolve um plano do Duque disfarçado, revelando a moralidade falha de Angelo e a capacidade de perdão de Isabella, enquanto testa a verdadeira natureza do casamento.

 

Troilus and Cressida é emblemático da "peça problema" shakespeariana, que desafia gêneros. Alguns contemporâneos de Shakespeare a classificaram como uma história ou uma comédia, embora o nome original da peça fosse The Tragedie of Troylus and Cressida (A tragédia de Troylus e Cressida). É a peça mais experimental, pois está centrada menos na Guerra de Troia e mais na desolação da condição humana. A crítica mordaz de Thersites sobre guerra e luxúria reflete a ambiguidade de gênero e sexualidade, além de mostrar a abertura de Shakespeare a novas questões.

 

Legado Literário de William Shakespeare

 

Shakespeare foi um respeitado dramaturgo e ator no final do século XVI e início do XVII, mas até o século XIX, sua reputação como gênio não foi reconhecida. A aclamação por sua obra atingiu seu auge durante o período romântico e vitoriano. No século XX, novos movimentos acadêmicos e de performance redescobriram suas peças. Atualmente, suas obras permanecem populares e são constantemente estudadas e reinterpretadas em diversos contextos culturais e políticos. A genialidade de Shakespeare reside em sua capacidade de criar personagens e enredos que refletem emoções e conflitos humanos universais, além de suas origens na Inglaterra elizabetana. O site Folger Shakespeare Library (link abaixo) é um excelente caminho para o conhecimento e estudo de sua vasta obra.


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