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Luis de Camões - Criador de Os Lusíadas, o maior poema épico português

Atualizado: 7 de ago.


Depois de apresentarmos os pensadores gregos e romanos da Antiguidade, Aristóteles, Ovídio, Homero, Petrônio, Eurípedes, Virgílio e Sófocles, voltamos ao Classicismo, destacando os escritores mais importantes do movimento, começando por Luís de Camões.

Luís Vaz de Camões (c. 1524/25 – 1580) foi o primeiro grande poeta e escritor português, durante a Era dos Descobrimentos de Portugal, Autor da epopeia nacional portuguesa, Os Lusíadas (1572), que descreve a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, texto que é lido pela maioria dos portugueses na escola. Camões foi também dramaturgo e prolífico poeta lírico. A habilidade de Luís de Camões já foi comparada a nomes como Shakespeare e Dante Alighieri.

Muitas das informações sobre a infância de Luís de Camões são contestadas. Ele era cavalheiro fidalgo, filho de um aventureiro, Simão Vaz de Camões, descendia de uma família nobre, mas empobrecida, de origem galega estabelecida em Portugal no final do século XIV, em consequência das guerras civis que assolaram Castela. Foi também parente do explorador Vasco da Gama, de cuja heroica viagem à Índia cantaria em Os Lusíadas.

Canto I

As armas e os Barões assinalados

Que da Ocidental praia Lusitana

Por mares nunca de antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

(...)

O pai de Camões morreu durante uma viagem à Índia pouco depois do seu nascimento. Camões seria educado em mosteiros e em Coimbra, a principal universidade de Portugal. Em 1543, após concluir os estudos, ele ingressou na Corte Real de Lisboa e foi banido dela em 1548 por se apaixonar por uma dama de companhia da rainha. Foi ainda exilado por uma caracterização insultuosa do rei representado numa de  suas peças.



 As poucas informações sobre Camões, em sentido estritamente biográfico, divide-se em três categorias:

  1. Declarações dos seus primeiros biógrafos no século XVII

  2. Documentos desenterrados no século XIX e pouca investigação posterior

  3. Alusões muito abstratas, em suas obras, sobre sua vida


Camões foi um homem extremamente sensível que teve de superar desafios devido à sua natureza impulsiva. Ele enfrentou a pobreza em mais de uma ocasião e essas experiências serviram de inspiração para a criação de sua obra, entre o drama, a história e a comédia por meio da poesia e do teatro. Quando, em 1527, o rei de Portugal D. João III mudou-se para Coimbra para escapar a uma epidemia em Lisboa, os Camões seguiram-no mudando definitivamente de residência.


Canto II


Já neste tempo o lúcido Planeta

Que as horas vai do dia distinguindo,

Chegava à desejada e lenta meta,

A luz celeste às gentes encobrindo;

E da casa marítima secreta he estava o Deus

Nocturno a porta abrindo,

Quando as infidas gentes se chegaram

Às naus, que pouco havia que ancoraram.

A Educação de Luís de Camões

Os historiadores não podem garantir com certeza sobre qual  tipo de educação Camões recebeu, pois os dados comprovados sobre ele são escassos. Porém, por volta dos doze anos, foi educado pelo tio Bento, que o enviou para Coimbra para estudar. A maioria dos estudiosos concorda que Coimbra foi o local onde ele recebeu a formação acadêmica. Estudou também no convento de Santa Maria.


A tradição portuguesa diz que, apesar de ser bastante indisciplinado, Camões se interessou particularmente por história, geografia e literatura. Estima-se também que tenha estudado teologia e filosofia na Universidade de Coimbra, com base no tipo de educação que um jovem da sua turma recebia naquela época, no local onde vivia e no tipo de conhecimentos refletidos no seu trabalho.

Aos 20 anos, Camões já era conhecido como um jovem muito inquieto e apaixonado que escrevia poemas para atrair as mulheres. Durante esse tempo, ele teve muitos casos amorosos e frequentou tabernas. Nas suas últimas biografias, diversas mulheres são citadas como casos amorosos. Uma delas foi a Infanta Dona Maria, irmã do Rei, e, por causa disso, passou algum tempo na prisão.



Concluídos os estudos, por volta de 1543, Camões partiu para Lisboa e ingressou nos círculos da corte como protegido do grande fidalgo D. Francisco de Noronha, conde de Linhares. Tornou-se amigo de Don Antonio, filho do conde, e atuou como seu tutor. Uma espessa teia de lendas obscurece esses anos da vida de Camões, mas é certo que ele escolheu a carreira militar (uma vocação muito adequada para um nobre empobrecido).


(...)

Canto III

AGORA tu, Calíope, me ensina

O que contou ao Rei o ilustre Gama;

Inspira imortal canto e voz divina

Neste peito mortal, que tanto te ama.

Assi o claro inventor da Medicina,

De quem Orfeu pariste, ó linda Dama,

Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe,

Te negue o amor devido, como soe.

(...)

  

Em 1546, Camões foi banido de Lisboa, supostamente por causa do seu amor proibido por Catarina de Ataíde, uma dama da corte (celebrada na poesia de Elizabeth Barrett Browning), presumivelmente a Natercia dos seus poemas, ou, menos provável ainda, por causa de uma alusão indiscreta ao rei em El-Rei Seleuco. Ao regressar a Lisboa, Camões se viu em apuros por causa de uma briga com um membro da casa do rei. Foi preso, mas libertado da prisão sob a promessa de que serviria nas colônias portuguesas na Ásia. Durante dois anos, a partir de 1547, Camões prestou serviço militar em Ceuta, cenário marroquino da primeira vitória ultramarina portuguesa em 1415.

Camões Escolhe a Carreira Militar

A morte do pai deixou a família Camões com uma condição social modesta e cheia de dívidas, o que talvez tenha sido o estopim para que o jovem poeta se alistasse como soldado ao serviço do rei e assim ganhasse méritos pelos serviços militares. Deduz-se que integrou durante algum tempo no Norte da África, na guarnição de Ceuta, o mais importante centro comercial e posto militar português e cenário marroquino da primeira vitória ultramarina portuguesa em 1415, Lá, provavelmente, perdeu o olho direito numa escaramuça com os mouros.

Em 1549, aos 25 anos, Camões regressou a Lisboa, mas quatro anos depois foi preso após uma briga com Gonzalo Borges, funcionário da corte portuguesa. Por esse incidente, ele ficou preso por um ano. D. João III concedeu-lhe perdão em 1553. O perdão sugere que Camões iria para a Índia ao serviço do rei, mas nenhuma das suas aventuras foi documentada. Ele certamente esteve lá, a julgar pelas referências em suas obras que revelam um conhecimento íntimo das condições sociais da região.

Em 1553, Camões partiu para a Índia a bordo do barco de São Bento da frota de Fernão Álvares Cabral. Parou em locais por onde Vasco da Gama navegou, incluindo o Cabo da Boa Esperança. Passou os dezessete anos seguintes exilado de Lisboa, servindo em Goa (Índia) e em Macau (China), onde diz a tradição que começou a escrever Os Lusíadas.


(...)

Canto IV


DESPOIS de procelosa tempestade,

Nocturna sombra e sibilante vento,

Traz a manhã serena claridade,

Esperança de porto e salvamento;

Aparta o Sol a negra escuridade,

Removendo o temor ao pensamento:

Assi no Reino forte aconteceu

Despois que o Rei Fernando faleceu.

(...)

As evidências colhidas na poesia de Camões parecem indicar que, durante a sua passagem pelo Oriente, ele participou em expedições navais, travou batalhas, foi preso e sobreviveu a naufrágios. Sua sobrevivência ao naufrágio no Delta do Mekong (Vietnã) é reforçada pelo detalhe lendário de que ele conseguiu nadar até a costa enquanto segurava no alto o manuscrito de seu épico ainda inacabado.



Em setembro de 1553, após uma viagem de seis meses, a bordo do São Bento, Camões chegou a Goa, capital comercial e militar da Índia portuguesa. Mas não ficou lá por muito tempo; em novembro juntou-se ao vice-rei Menezes numa expedição punitiva contra o Rei da Pimenta no Malabar. O vice-rei conduziu suas forças ao sucesso. Mais tarde, Camões escreveu em sua Elegia VI, "Com morte, com incêndios os punimos" .

Em fevereiro de 1554 Camões iniciou nova expedição, dessa vez sob o comando do filho do vice-rei, Dom Fernando de Menezes. A armada navegou até os portões do Mar Vermelho e daí subiu a costa da Arábia. Camões comemorou a viagem na sua Canção VIII. A expedição regressou a Goa em novembro. Quando o novo vice-rei, Francisco Barreto, foi investido em Goa, em Junho de 1555, Camões contribuiu para as festividades com o seu Auto de Filodemo e a Sátira do Torneio.

Luís de Camões certamente não fez fortuna por lá, pois em sua poesia muitas vezes reclama da má sorte e das injustiças que encontrou. Enquanto esteve no Oriente, Camões participou de uma ou duas expedições navais militares. Pode-se supor que os seus anos no Oriente foram semelhantes aos de milhares de portugueses espalhados naquela época da África ao Japão, cuja sobrevivência e fortuna, como ele diz, sempre estiveram penduradas no tênue fio da providência divina.

(...)

Canto V

ESTAS sentenças tais o velho honrado

Vociferando estava, quando abrimos

As asas ao sereno e sossegado

Vento, e do porto amado nos partimos.

E, como é já no mar costume usado,

A vela desfraldando, o céu ferimos,

Dizendo:- «Boa viagem!»; logo o vento

Nos troncos fez o usado movimento.

(...)


Em 1558, Camões encontrava-se em Macau, onde era responsável pelos bens na China dos seus compatriotas falecidos ou ausentes. Aí começou, ou continuou, a escrever Os Lusíadas (é impossível indicar a data exata do início do poema). Diz a tradição que ele escreveu numa gruta que até hoje leva seu nome. Mas logo foi acusado de má administração e colocado a bordo de um navio com destino a Goa.

Camões foi preso ao regressar a Goa, em 1561. Depois de muitos acasos acompanhou o amigo Pedro Barreto, o novo governador de Moçambique. A sua sorte em Moçambique foi de mal a pior e ao longo dos dois anos ficou quase na miséria. O historiador Diogo de Couto, guarda-mor da Torre do Tombo de Goa, que ali o visitou, conta que os amigos tinham que lhe dar comida. Com a ajuda de Couto e outros, porém, Camões conseguiu embarcar no Santa Clara em novembro de 1569, finalmente com destino a casa. Chegou a Portugal em 7 de abril de 1570, após uma ausência de dezessete anos. Dois anos depois publicou Os Lusíadas.


É deste período que sobrevive o primeiro documento diretamente relacionado ao poeta - a Carta de perdão a Luís de Camões, emitida pelo rei e datada de Lisboa, 7 de Março de 1553. Segundo esse documento, embora muito pobre, Camões era um cavalheiro da casa real. O documento relata ainda que em 1552, na festa de Corpus Christi (16 de junho), Camões infligiu um ferimento de espada a um servo real e foi preso. O servo, porém, acabou por perdoá-lo, a carta representa a ratificação real do perdão.


(...)

Canto VI

NÃO sabia em que modo festejasse

O Rei Pagão os fortes navegantes,

Pera que as amizades alcançasse

Do Rei Cristão, das gentes tão possantes.

Pesa-lhe que tão longe o apousentasse

Das Europeias terras abundantes

A ventura, que não no fez vizinho

Donde Hércules ao mar abriu o caminho.

(...)

A carta também afirma que Camões estava prestes a partir para a Índia. Na última das quatro cartas escritas da Índia, Camões relatou que deixou sua terra natal sem arrependimento; uma vez a bordo do navio, ele citou o general romano Cipião Africano: "Ingrata patria, non possidebis ossa mea" (Pátria ingrata, você não possuirá meus ossos). Descreveu a sua vida em Lisboa como "três mil [dias] de más línguas, piores tenções, danadas vontades, nascidas de pura inveja" .


Em recompensa pelo seu poema ou talvez pelos serviços prestados no Extremo Oriente, o Rei Sebastião (1557 a 1578) lhe concedeu uma pequena pensão real. Após a morte de Camões, a pensão foi transferida para sua mãe. Diz a tradição que, apesar da sua pensão, Camões morreu imprevidente num asilo para pobres em Lisboa – um destino que o escritor americano Herman Melville recordou em poesia três séculos mais tarde.

Camões não amealhou nenhuma fortuna; tudo o que ele tinha era o manuscrito de seu poema épico, que pretendia publicar. Como Lisboa ainda estava nas garras da peste, as circunstâncias em Portugal não eram propícias. Mas ele seguiu em frente e, em 24 de setembro de 1571, obteve licença real para imprimir o poema.


Publicado em 1572, o sucesso imediato. Sebastião, o jovem rei de Portugal, reconheceu-o tacitamente como a epopeia nacional. Em 1580, foram impressas duas traduções diferentes do poema para o espanhol.

A Poesia de Luís de Camões

Não se sabe onde e como ele adquiriu o conhecimento enciclopédico que a sua obra apresenta. Também não se sabe qual das duas edições de Os Lusíadas de 1572 é a autêntica, ou qual poderá ser a versão definitiva da sua produção lírica, uma vez que o volume com as suas rimas foi roubado e publicado postumamente, razão pela qual os sucessivos editores não conseguiram chegar a acordo sobre o número e a autoria de algumas de suas peças líricas.


(...)

Canto VII

JÁ se viam chegados junto à terra

Que desejada já de tantos fora,

Que entre as correntes Índias se encerra

E o Ganges, que no Céu terreno mora.

Ora sus, gente forte, que na guerra

Quereis levar a palma vencedora:

Já sois chegados, já tendes diante

A terra de riquezas abundante!

(...)

Mas o que é verdadeiramente essencial é o esplêndido poema de Camões, em que se percebem ecos de Homero, Virgílio, Dante e do poeta italiano Ariosto, mas que emerge com uma descoberta surpreendente: apesar de tentar enaltecer as façanhas de Vasco da Gama, seu provável antepassado, o poeta sobrepõe do herói coletivo ao indivíduo e canta uma autêntica canção de amor nacional em que a história, a política, a erudição, vários eixos da trama sabiamente manejados entre o real e o fantástico, o mítico e o histórico e jogos espaço/temporais de absoluta novidade para a época com o uso de uma linguagem que oscila do clássico ao moderno e do culto ao popular sem perder a solidez conceitual ou a graça estilística.



Camões foi também um intenso poeta lírico que, inspirado nas buscas renascentistas provenientes das suas leituras de Petrarca e Garcilaso, poeta renascentista espanhol, conhecido por ter introduzido as formas poéticas italianas na literatura espanhola, sempre aliou-se às fortes subjetividades de Horácio e Ovídio, que revela ter conhecido muito bem, renova essas posições classicistas e caminha para o Maneirismo e às vezes até para o anúncio do Barroco graças ao uso constante de paradoxos.


Do ponto de vista temático, suas letras investigam o conflito entre o ideal neoplatônico do amor espiritual e o amor apaixonado e sensual, bem como o anseio por perdas de todos os tipos e seus efeitos nos sentimentos humanos.


(...)

Canto VIII

Na primeira figura se detinha

O Catual que vira estar pintada,

Que por divisa um ramo na mão tinha,

A barba branca, longa e penteada.

Quem era e por que causa lhe convinha

A divisa que tem na mão tomada?

Paulo responde, cuja voz discreta

O Mauritano sábio lhe interpreta:

(...)

  

Do ponto de vista formal, são notáveis ​​a sua perfeição e simplicidade, por meio das quais entramos num território onde a experiência de vida enriquece as influências literárias e nos oferece uma poesia que ainda hoje perturba depois de tantos séculos, como essas traduções poderão demonstrar.

Criador da linguagem clássica portuguesa, Camões teve seu reconhecimento e prestígio cada vez mais elevados a partir do século XVI. Seus versos continuam vivos em diversos filmes, músicas e roteiros.


Nas suas obras dramáticas ele procurou combinar tendências nacionais e clássicas. Na comédia Anfitriões ( “Os Dois Anfitriões”), adaptação do Anfitrião, comédia em cinco atos e um prólogo, escrita pelo italiano Plauto, acentuou o aspecto cômico do mito de Anfitrião; na comédia El-rei Seleuco, reduziu a pura farsa a situação encontrada em Plutarco e em Filodemo desenvolveu o auto, uma espécie de peça moral, que Gil Vicente já havia popularizado.


(...)

Canto IX

Tiveram longamente na cidade,

Sem vender-se, a fazenda os dous feitores,

Que os Infiéis, por manha e falsidade,

Fazem que não lha comprem mercadores;

Que todo seu propósito e vontade

Era deter ali os descobridores

Da Índia tanto tempo que viessem

De Meca as naus, que as suas desfizessem.

(...)


Camões parece ter considerado a comédia sem importância, como uma mera curiosidade e uma recreação à qual só podia dar uma atenção transitória. No entanto, ao impor a contenção clássica ao auto vicentino, ao aumentar a importância do enredo, ao transferir o elemento cômico das personagens para a ação e ao refinar a farsa, Camões indicou um meio possível de rejuvenescer a comédia do século XVI em Portugal .


Os dramaturgos posteriores, infelizmente, foram incapazes de seguir o exemplo que ele havia dado. O drama, porém, é o aspecto menos importante da poesia de Camões. Foram a sua epopeia e as suas letras, entre as quais estão algumas das mais belas já escritas, que fizeram dele um dos maiores poetas da Europa do século XVI e deram-lhe uma reivindicação duradoura à fama.



Principais Características do Estilo Literário de Camões


Os textos de Camões são marcados por influências de escritores clássicos (gregos e romanos) e do Humanismo italiano. A bagagem literária deixada pelo escritor é de inestimável valor literário. Camões escreveu poesias líricas e épicas, peças teatrais e sonetos. A maioria de seus textos e poemas são verdadeiras obras de arte, marcadas por grande criatividade e se enquadram no que é chamado de Literatura de Viagens, com valorização dos descobrimentos e conquistas marítimas de Portugal.


(...)

Canto X

Mas já o claro amador da Larisseia

Adúltera inclinava os animais

Lá pera o grande lago que rodeia

Temistitão, nos fins Ocidentais;

O grande ardor do Sol Favónio enfreia

Co sopro que nos tanques naturais

Encrespa a água serena e despertava

Os lírios e jasmins, que a calma agrava,


Além da presença de sentimento heroico e ufanista (orgulho pelo país), suas poesias são influenciadas pela leitura de escritores da Antiguidade Clássica como Homero e Virgílio.


Está presente em sua obra a glorificação das realizações heroicas, do seu ponto de vista e dos portugueses do período, dos navegadores do reino de Portugal.

Vasco da Gama às Índias (1497-1498). O navegador é exaltado como sendo o representante ideal do povo português. Camões também valoriza a expansão do catolicismo no contexto das conquistas marítimas.


Estão presentes na sua obra estilo literário grandiloquente (expressões rebuscadas e palavras pomposas), grande realismo das descrições, a presença de visão crítica, principalmente na parte final de Os Lusíadas e o uso de conhecimentos técnicos e informações geográficas e históricas.



A Obra de Luís de Camões

Camões viveu no final do Renascimento europeu, no início da Idade Moderna e na transição do feudalismo para o capitalismo. Foi uma época em que o intelectualismo e a pesquisa científica começaram a surgir após as grandes navegações, com o crescimento de muitos ramos do conhecimento. A escrita de Camões foi fortemente influenciada pelas suas viagens pelo império português.

Sua obra pode ser dividida em três gêneros: lírico, épico e teatral. A obra lírica foi uma das mais populares, sendo seus cantos, em particular, a principal forma de divisão na longa poesia medieval e moderna. O trabalho de Camões estava repleto de numerosas fontes da mitologia greco-romana, da história europeia antiga e moderna e da literatura clássica, particularmente Homero e Virgílio.

Nos seus esforços para descobrir quem inspirou a maior parte dos poemas líricos de Camões, os críticos fizeram, em bases muito escassas, várias sugestões contraditórias sobre mulheres que possam ter figurado na vida do poeta. Mas a verdadeira musa, se o poeta a tivesse, continua a ser um enigma. Também não se deve esquecer que o próprio Camões disse num dos seus sonetos, “em várias flamas variamente ardia”.


A primeira edição das Rimas de Camões foi publicada em 1595, quinze anos após a sua morte. O editor, Fernão Rodrigues Lobo Soropita, exerceu um cuidado escrupuloso na escolha dos manuscritos com poemas dos cancioneiros, mesmo assim não pôde evitar a inclusão de alguns poemas apócrifos. A fama crescente da epopeia de Camões durante o início do século XVII também trouxe fama às letras, e no século XVII muitos esforços, nem todos louváveis, foram feitos para desenterrar mais poemas.


Poemas Apócrifos de Luís de Camões


Camões trocou a vaidade e a superficialidade da vida na corte pelas dificuldades da vida de um soldado na África e na Índia. A troca enriqueceu imensamente a sua poesia, pois ele não precisava mais se conformar aos padrões de brevidade exigidos nos círculos da corte.


Mais importante ainda, tão profunda foi a angústia que experimentou por causa do exílio e das provações pelas quais passou no Oriente, que sua inquietude tornou-se parte integrante do seu ser, permitindo-lhe entregar-se à “ansiedade carregada de solidão”, um tom novo e convincente, único na literatura portuguesa. Seus melhores poemas vibram com a nota inconfundível do sofrimento genuíno e da profunda sinceridade de sentimento que o coloca muito acima dos outros poetas da sua época.


Embora as canções e elegias mostrem todo o poder de Camões, as redondilhas não devem ser subestimadas. Nelas, Camões foi inimitável. Ele rejuvenesceu a antiga arte de glosar pela aparente espontaneidade e simplicidade, pela ironia delicada e pela fraseologia picante de seus versos e, assim, elevou a graça cortês na poesia ao seu nível mais alto. Esses poemas mostram também um Camões que sabia ser feliz e despreocupado.


Os Lusíadas, a Obra-prima de Luís de Camões


 Considerada a obra-prima de Camões, Os Lusíadas, é um poema épico português. O título vem da palavra lusíada, que significa “português” e é por sua vez derivado do antigo nome romano de Portugal, Lusitânia. A obra exalta os feitos gloriosos dos portugueses e as suas vitórias sobre os inimigos do cristianismo: vitórias não só sobre os homens, mas também sobre as forças da natureza motivadas pelos deuses inimigos da mitologia clássica.



Os Lusíadas também foi considerado a primeira apologia poética notável do mercantilismo europeu mundial e Imperial. Camões construiu o seu poema celebrando o drama e as glórias da história portuguesa em torno dos palcos da viagem de Vasco da Gama. Uma das personagens mais eficazes neste poema histórico é Adamastor, o monstruoso Espírito do Cabo que aguarda os marinheiros portugueses. A figura de Adamastor sofreu interpretações e adaptações variadas. Ele foi transformado, especialmente na África Austral, no símbolo sinistro da própria perfídia, traição e violência da Europa na África.

A coragem e o empreendimento dos exploradores portugueses inspiraram a ideia de uma epopeia nacional durante o século XV, mas coube a Camões, no século XVI, colocá-la em execução. É impossível dizer com certeza quando ele decidiu fazê-lo ou quando realmente começou a escrever seu épico.


O poema é dividido em dez cantos, totalizando 1.102 estrofes (grupo de versos dentro de um poema) com quase 9.000 versos. O poema foi escrito na rima ottava decassilábica com o esquema de rimas ABABABCC.


As quatro seções principais:


  1. Introdução – também conhecida como proposição, que apresenta o tema e os heróis do poema

  2. Invocação – uma oração aos Tagides, as ninfas do Tejo

  3. Dedicatória – uma dedicatória a Sebastião de Portugal, desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir

  4. Narração – é o próprio épico que começa na estrofe 19 do Canto I. A narração termina então com um apólogo na estrofe 145 do Canto X.


Depois de uma introdução, uma invocação e uma dedicatória a D. Sebastião, inicia-se a ação, tanto histórica quanto mitológica. Os navios de Vasco da Gama já estão a caminho do Oceano Índico, navegando pela costa da África Oriental. Os deuses do Olimpo se reúnem para discutir o destino da expedição, favorecida por Vênus e atacada por Baco.


Os viajantes passam vários dias em Melinde, na costa leste de África, e a pedido do rei, Vasco da Gama relata toda a história de Portugal desde as suas origens até ao início da sua grande viagem (Cantos III, IV e V). Esses cantos contêm algumas das mais belas passagens do poema: o assassinato de Inês de Castro, que se torna símbolo da morte por amor; a Batalha de Aljubarrota; a visão de D. Manuel I; a descrição do fogo de Santo Elmo e da tromba d’água; e a história de Adamastor, o gigante de ascendência clássica que, como Cabo da Boa Esperança, diz a Vasco da Gama que ficará à espreita para destruir as frotas que regressam da Índia.


Ao reembarcarem, Camões aproveita as horas de lazer a bordo para narrar a história da Doze de Inglaterra (Canto VI, 43–69). Entretanto, Baco, sempre disposto a impedir o progresso dos portugueses no Oriente, convoca um conselho dos deuses do mar e incita-os a organizar o naufrágio da frota portuguesa e é impedido por Vênus (Canto VI, 85-91), e Vasco da Gama consegue chegar a Calicute (Kozhikode, agora no estado de Kerala, sudoeste da Índia), no final de sua viagem.


Ali seu irmão, Paulo da Gama, recebe a bordo o representante do rei e explica o significado das personagens retratadas nos estandartes que adornam o navio do capitão (Cantos VII e VIII). Na viagem de regresso, os marinheiros encontram a ilha que Vênus criou para eles e as ninfas recompensando-os pelo seu trabalho. Uma das ninfas canta os futuros feitos dos portugueses (Cantos IX e X), e a animação termina com uma descrição do universo feita por Tétis e Vasco da Gama, após a qual os marinheiros embarcam novamente e as ninfas os acompanham na sua jornada de volta para casa.


Camões alcançou uma harmonia primorosa entre a aprendizagem clássica e a experiência prática, a percepção delicada e a soberba habilidade artística, expressando por meio deles a gravidade do pensamento e as mais finas emoções humanas.


O épico era o seu elogio à “vida perigosa” e era um aviso severo aos monarcas cristãos, que, desperdiçando o seu tempo em lutas mesquinhas, não conseguiam unir-se contra as conquistas invasoras do Islão no sudeste da Europa.


As descrições realistas no poema de encontros sensuais, batalhas, tempestades e outros fenômenos naturais transcendem o impulso das alusões clássicas que permeiam a obra e contribuem para o estilo elevado, porém fluente, do poema. Os Lusíadas revela um surpreendente domínio da linguagem e variedade de estilos e proporciona um retrato fascinante de um homem e poeta extraordinário.


Camões, Muito Além de Portugal


O sucesso de Luís de Camões foi além de Portugal, mesmo em países não lusófonos, mas principalmente após a sua morte. Cervantes chegou a afirmar que Camões era o “cantor da civilização ocidental”. Camões influenciou o trabalho de John Milton, e Sir Richard Burton o considerou um mestre.


A sua fama espalhou-se pela primeira vez por Espanha, onde duas das suas traduções de Os Lusíadas apareceram em 1580, ano da sua morte. A obra também foi traduzida para o inglês em 1655 e para o italiano em 1658. No entanto, tornou-se mais famosa na Inglaterra cerca de um século depois, com a publicação da versão poética de William Julius Mickle, em 1776. A obra de Camões só chegou em França no início do século XVIII, com tradução de Castera. A primeira de muitas traduções para o inglês, The Lusiads, or Portugals Historical Poem, de Richard Fanshaw, foi publicada em 1655.


A Morte de Luís de Camões

Muitas vezes incompreendido pela sociedade, Camões chegou a reclamar, em seus versos, o pouco reconhecimento que recebeu em vida. Faleceu em Lisboa, em 10 de junho de 1580, aos 56 anos e às vésperas da anexação de Portugal à Espanha. A pensão que lhe foi concedida pelo seu rei não o impediu de morrer na pobreza extrema, longe dos luxos da corte portuguesa ou do ambiente correspondente à sua vida militar.

 Os restos mortais de Camões foram enterrados perto do convento de Santa Ana, em Lisboa, mas a sua localização exata foi perdida após o terremoto de 1755. Em 1988, Portugal e Brasil concordaram em criar um Prémio Lterário Luís de Camões. Sua obra permanece no gosto de leitores e críticos especializados quinhentos anos após sua criação.

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