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Trovadorismo (1189 a 1418) - Parte 2

Atualizado: 24 de jul.



Contexto Histórico do Trovadorismo


Na postagem anterior destacamos o Trovadorismo e o seu contexto histórico, dominado pelo teocentrismo e pelo feudalismo. Falamos também sobre o Trovadorismo em Portugal. Vamos agora tratar das cantigas trovadorescas e seus autores mais importantes.

A requintada população da Provença caracterizava-se pelos ideais de vida burguesa, procurando viver de modo mais ameno possível, sem mesmo se notar uma diferença marcante entre o fidalgo e o burguês. Para tanto, contribuíam a divisão racional da propriedade e o afrouxamento dos laços de dependência feudal, o que propiciava o aparecimento de forte individualismo, significando isso, na Idade Média, um choque com os princípios da Igreja, pois representava uma concepção de vida oposta às doutrinas ortodoxas. Ademais, vale ajuntar que o clero, no Sul, não possuía a mesma força dos religiosos do Norte, pois estava submetido aos senhores feudais. Audemaro Taranto Goulart e Oscar Vieira da Silva.

Cantigas Trovadorescas

Cantiga Trovadoresca é a denominação concedida aos textos poéticos da primeira época medieval e que fizeram parte do movimento literário do Trovadorismo. Em geral, eram músicas cantadas em coro e, por isso, receberam o nome de cantigas.

A poesia trovadoresca possui uma tendência lírico-amorosa e outra satírica. Na primeira, predominam os temas do sofrimento amoroso e da saudade. Na segunda, são feitas críticas a pessoas ou costumes, algo bastante ousado em uma época de repressão ao livre pensamento.

Cantigas Líricas

Vimos na postagem Gêneros literários e escolas literárias que o termo lírico recebeu esse nome, pela referência à lira, instrumento musical que acompanhava a declamação de poesias na Antiguidade. Inclui os textos poéticos de caráter sentimental que revelam as emoções do autor. É caracterizado pela função poética da linguagem e pelo uso de palavras no seu sentido conotativo (sentido dado a uma palavra em função de seu contexto, que não corresponde ao seu significado literal) com predominância da primeira pessoa do singular (eu).

São textos breves porque não apresentam enredo e sim a exteriorização do mundo interior do poeta, o eu lírico, também chamado de sujeito lírico ou eu poético, não se refere ao autor do texto (pessoa real) por ser uma entidade fictícia (feminina ou masculina). É uma criação do poeta, que faz o papel de narrador ou enunciador do poema. O eu lírico representa a "voz da poesia".

As cantigas líricas possuem dois ramos, as cantigas de amor, cujo tema é o sofrimento amoroso, e as cantigas de amigo, que cantam a saudade do ser amado. Vamos a elas!

Cantigas de Amor

São escritas na primeira pessoa do singular (eu). Nelas, o eu poético, ou seja, o sujeito fictício que dá voz à poesia, declara seu amor a uma dama, tendo como pano de fundo o formalismo do ambiente palaciano. A confissão amorosa é direta e o trovador comumente se dirige a ela, chamando-a de “mia senhor” ou “mia senhor fremosa” (minha senhora ou minha formosa senhora). O apaixonado, geralmente acometido pela coita, a dor amorosa diante da indiferença da amada, é servo e vassalo de sua adorada e expressa seu amor com insistência e intensidade.



As cantigas de amor surgiram entre os séculos XI e XIII, influenciadas pela arte desenvolvida na região da Provença, no sul da França. A influência do lirismo provençal foi intensificada com a chegada de colonos franceses na Península Ibérica e que foram lutar contra os mouros (árabes) ligados à Provença. Destaca-se também o intenso comércio entre a França e a região ocidental da Península Ibérica, alcançando o Atlântico Norte.

Nesse contexto, surge o "amor cortês", baseado num amor impossível, onde os homens sofrem de amor por desejarem mulheres da corte, geralmente casadas com nobres. Essa concepção é mais intensa na voz dos trovadores de Portugal e da Galiza (comunidade autônoma espanhola situada no noroeste da Península Ibérica, onde antigamente se situou a Galécia e o Reino da Galiza). Esses trovadores não se limitam a imitar, mas a "sofrer de maneira mais dolorida".

Como, você pode estar se perguntando, o trovador assumia essa posição de submissão diante da mulher se na Idade Média, a mulher ainda ocupava um lugar inferior na escala social? A resposta é dada pelos estudiosos da literatura Audemaro Taranto Goulart e Oscar Viera da Silva:

No Sul da França (Provença), entretanto, a situação da mulher era diferente (da situação da mulher do Norte da França): a lei lhe conferia igualdade jurídica com o homem, evidenciada no fato de ela herdar, possuir bens, e poder, depois de casada, dispor deles sem que fosse necessário o consentimento do marido. Como se vê, a nova civilização possuía um ideal feminista, que vai ser representado nas Cantigas de Amor pela sujeição amorosa do homem, pela submissão imposta pelo desejo e imposição femininos.

Cantigas de Amigo

São escritas na primeira pessoa do singular (eu) e, geralmente, são apresentadas em forma de diálogo. O trabalho formal é mais apurado em relação às cantigas de amor. Originam-se do sentimento popular e na própria Península Ibérica.



Nelas, o eu poético é feminino, mas seus autores são homens. É a dama quem expõe seus sentimentos, sempre de maneira discreta porque, no contexto provençal, o valor mais importante de uma mulher é a discrição. A donzela dirige-se por vezes à sua mãe, a uma irmã ou amiga, ou ainda a um pastor ou alguém que encontre pelo caminho.

Essa é a principal característica que as diferencia das cantigas de amor, onde o eu lírico é masculino. O ambiente descrito nas cantigas de amigo é a zona rural e não mais a corte. Os ambientes envolvem mulheres camponesas, característica que reflete a relação dos nobres com as plebeias. Esta é, sem dúvida, uma das principais marcas do patriarcalismo da sociedade portuguesa.



Cantigas Satíricas

Apresentam, em geral, uma crítica indireta e irônica. Costumam ironizar ou difamar determinada pessoa. Demonstram também a ousadia do trovador ao criticar a sociedade da época, em que o livre pensamento era combatido pela Igreja. São dois os tipos de cantigas satíricas: as de cantigas escárnio e as cantigas de maldizer.

Cantigas de Escárnio


São mais irônicas e trabalham sobretudo com trocadilhos e palavras de duplo sentido, sem mencionar diretamente nomes. São críticas indiretas: é um “mal dizer” de maneira encoberta, insinuada.



Cantigas de Maldizer

São aquelas em que os trovadores apontam direta e nominalmente o alvo de suas sátiras, de forma propositalmente ofensiva e fazendo uso de termos de baixo calão, como palavrões, pois o intuito é mesmo agredir alguém verbalmente.



Principais autores do Trovadorismo

Portugal

O rei D. Dinis (1261-1325) - foi um grande incentivador que prestigiou a produção poética em sua corte. Foi ele próprio um dos mais talentosos trovadores medievais com uma produção de 140 cantigas líricas e satíricas.

Paio Soares Taveirós – foi um trovador da primeira metade do século XIII. Vinha de origem nobre, é autor da Cantiga de Amor a Ribeirinha que é considerada a primeira obra em língua galaico – portuguesa.

Espanha


D. Afonso X – considerado o grande renovador da cultura peninsular na segunda metade do século XIII. Ele mesmo escreveu muitas composições em galaico-português que ficaram conhecidas como Cantigas de Santa Maria.


França

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